O ministro Joaquim Barbosa anunciou recentemente sua
aposentadoria antecipada como ministro e presidente do Supremo Tribunal
Federal.
Seu maior legado continuará sendo sua batalha épica
implacável contra a corrupção, mais especificamente na ação penal 470,
conhecida coloquialmente como mensalão.
Neste processo que se arrastou por anos a fio e monopolizou o
Supremo, a opinião publica e a imprensa; empresários, políticos, banqueiros e
dirigentes partidários foram condenados, reduzindo-se por um instante a
sensação de impunidade que grassa na república.
Neste processo o ministro angariou críticos ferrenhos e
admiradores por suas atitudes determinadas, e pela coragem que presidiu a ação
penal, primeiro como relator do processo, e depois como presidente do supremo.
Assim como Giovanni Falconi em sua luta contra a máfia
italiana, Joaquim Barbosa provocou a ira de personalidades de peso e influencia
na política e no meio jurídico.
Sofreu ataques virulentos por sua atuação como magistrado, e
que extrapolaram para sua vida privada, como se vivêssemos no país das virtudes
e da moral ilibada. É evidente que Joaquim Barbosa, como ser humano cometeu
seus deslizes, mas que atire a primeira pedra quem não os tenha cometido.
Cavaram fundo e encontram pouco contra o ministro, em
denuncias ridículas, que procuraram desqualificá-lo como juiz e atingir sua
honra.
O ministro foi mais de uma vez vitima de preconceito e
ameaças públicas por parte de pessoas que perderam a noção de respeito e de
perigo.
”Tire as patas de nossos heróis” e “você vai morrer de câncer
ou com um tiro na cabeça” dizia uma destas mensagens. E vieram, vejam só, de um
militante de um grande partido político.
Estes que saem a campo para defender heróis decaídos insistem
em olhar o Brasil pelo retrovisor da história, sem se ater que o país mudou e
que nossas demandas hoje são outras. Não percebem que a grande ameaça á democracia
é a corrupção publica, mãe de todos os crimes.
Mas Joaquim Barbosa não deixa o supremo por medo de ameaças,
mas por entender que sua voz dissonante não encontra eco entre seus pares.
O Supremo não teve
tutano para sustentar o ponto fora da curva, que nos conduziria a um novo
patamar de cidadania, e se recolheu ao seu papel de zelador mor da constituição
em sua interpretação mais banal.
O trabalho de Joaquim Barbosa extrapolou nossas fronteiras,
angariou simpatias pelo mundo afora e sua luta nunca será em vão.
Quem acha que sua saída representa o retorno do supremo a sua
curva histórica, não se iluda. O ministro saiu de um STF rendido em sua
morosidade e burocracia, e ganha a historia como a voz que clama no deserto
contra a corrupção e a impunidade.
Fora do Supremo sua luta pode ser muito mais eficaz porque
não estará preso as regras e regulamentos que regem um tribunal.
Os canalhas que se divirtam enquanto podem porque a semente
plantada por Joaquim Barbosa encontrará com certeza terreno fértil para
germinar.
A luta contra a corrupção e contra a impunidade entra
definitivamente para a ordem do dia, porque no campo escasso de valores em que
vivemos, existe uma demanda sempre reprimida e uma sede insaciável de justiça.
João Drummond
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