A copa do mundo da FIFA 2014 terminou e o Brasil, ainda de
ressaca, começa a sacudir os vestígios da festa que se prenunciava
catastrófica.
As coisas afinal correram melhores do que podiam prever até
as opiniões mais otimistas. Até o quarto lugar e as derrotas elásticas para as
seleções da Alemanha e da Holanda ficaram de bom tamanho.
Como era de se esperar em eventos desta natureza, as noticias
varreram o mundo, e as redes sociais fervilharam de boatos e mentiras que é um
traço desta nossa sociedade paranóica.
Esta boataria tinha nascedouro em frase ditas de forma
inconseqüente por personalidades publicas ou anônimas, com objetivos os mais
variados e inconfessáveis. São frases que ganharam contornos de verdades
absolutas, mas que não resistem a mínima analise critica.
Felipão dizia ao assumir a seleção em 2012, que o Brasil
tinha a obrigação de ganhar esta copa.
Começava o seu trabalho com uma promessa, no mínimo
inconseqüente, que contagiou a torcida e os meios de comunicação.
Pergunto: Porque tinha que ganhar, já que se tratava de uma
competição?
Isto parte de um pressuposto e uma arrogância nacional de que
detemos o monopólio de país do futebol.
Qualquer seleção que entra em uma competição pode ganhar ou
não. Esta coisa de ter a obrigação de ganhar vai contra o espírito dos
desportos.
A historia de que o Brasil não poderia perder e muito menos
de goleada para outra seleção é parte desta nossa pretensiosa crença de que
Deus é brasileiro e ao final o universo vai sempre conspirar a nosso favor.
Seleções de outros
países também têm o direito de sentir o doce sabor da conquista, mas antes
disto tiveram que acumular sua cota de derrotas. Não sejamos egoístas, ninguém
nem time nenhum pode só ganhar e ganhar o tempo todo.
Outra bobagem que temos lido com freqüência é de que fomos
humilhados pelos times da Alemanha e da Holanda, e que isto mancharia para
sempre nosso currículo.
Ridículo. Qualquer time que entre em campo contra outro, (11
contra 11) pode ganhar ou perder, até mesmo de goleada, basta que um seja mais
bem treinado e que esteja emocionalmente mais equilibrado que o outro, e isto
nada tem a ver com honra nacional.
O caminho do perdedor é o trabalho árduo pela reconquista do
podium perdido, e para relegar as derrotas aos arquivos mortos da história.
Se temos que nos envergonhar de alguma coisa que seja por
algo que valha a pena, como a corrupção de nossos políticos, a baixa qualidade
de nossas saúde, educação e segurança, pelas crianças abandonadas, pela falta
de moradia, pelo brutal desnível social, etc.
Para que gastarmos nossas energias colocando tanta prioridade
numa atividade de desporto e lazer em detrimento de urgentes necessidades
sociais?
Prenunciava-se um colapso no Brasil durante a copa, que não
se confirmou. Pelo menos não na copa da FIFA, mas na copa do dia a dia este
colapso é permanente. Perdemos o tempo todo de goleada para a corrupção, para o
descaso com os interesses públicos e para a desigualdade social.
Esta derrota sim dói e fere nossa honra. É para esta batalha
que a energia de quem crê num Brasil melhor deve se direcionar em busca do
maior de todos os troféus: uma democracia plena e justa.
A vitória, e a derrota, são efêmeras, só que uma nos traz
euforia e alegria enquanto a outra no induz as mudanças necessárias. A vitória
amplia nossa zona de conforto enquanto que a derrota nos força a sair dela.
Enfim ganhar ou perder faz parte do jogo, tanto no futebol
quanto na vida. Desonroso é deixar de tentar.
João Drummond
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