O
mundo do pastor-deputado Marcos Feliciano é um mundo diferente do nosso, pobres
mortais, cidadãos comuns, pagantes, votantes, leitores, eleitores e
consumidores.
Situa-se
talvez em algum universo paralelo, onde as certezas podem ser absolutas e as
verdades inquestionáveis, pois que advêm da direta comunicação com o deus que
lhe sustenta a fé.
Neste
seu mundo Marcos Feliciano é um homem feliz, já que não precisa conviver com os
dilemas, as duvidas e as incertezas que nos acossam no dia a dia, e para todo o
sempre.
Marcos
Feliciano, do alto do seu púlpito ou da cadeira de presidente da comissão de
direitos humanos da câmara, age e fala de uma só maneira. Afinal ele é o homem
ungido por Deus, cheio do Espírito Santo que chegou àquela comissão que antes
era dominada por satanás.
O
povo que protesta e que pede sua saída da comissão que se dane. A comissão,
segundo ele, é de direitos humanos e não pode servir aos agentes do capeta. E o
problema é resolvido deixando a turba ignara e enfurecida fora das sessões que
ele preside. Simples assim como tudo o é no mundo de Feliciano.
Os
africanos são, segundo seu santo pensamento, descendentes da tribo amaldiçoada
de Abraão, e, portanto vivem no sofrimento que merecem. Os gays e as lésbicas
são agentes de linha de frente nesta guerra declarada que Lúcifer promove
contra Deus, pela derrocada da consciência humana.
É
dele também algumas frases preciosas de sua pregação religiosa, quando ungido
pelo Espírito Santo em seu mundo perfeito, afirma em alto e bom tom que quem
matou John Lenon não foi um fã maluco e fanático, mas o próprio Deus em pessoa (ou
em espírito?). Ele diz textualmente que Deus deu três tiros em Lenon, (um pelo
o Pai, outro pelo o Filho e um terceiro pelo Espírito Santo), porque Lenon
teria dito que os Beatles seriam mais famosos que Jesus Cristo.
Mas
o pastor Feliciano se supera quando afirma também no púlpito de sua Igreja, que
Deus matou também os Mamonas Assassinas, porque eles estavam botando palavras
torpes nas bocas das nossas crianças.
Nestes
pensamentos deturpados de Feliciano todos os crimes são justos e justificados, quando
a vitima é pobre, preta, prostituta, gay ou lésbica, ou simplesmente vitima de
acidente, porque a ação de Deus pode descer justiceira e implacável pelas mãos
e armas de qualquer assassino e psicopata, ou por obra do acaso, promovendo
desta maneira a mais estranha e absurda justiça divina.
Marcos
Feliciano se vale desta forma da mais perigosa forma de preconceito que podemos
conceber nestes conturbados e difíceis tempos, o preconceito religioso,
fundamentalista.
Se
apossar das palavras de Deus e dominar desta forma multidões de fieis e arrebatados
cordeiros, nos leva às passagens do antigo testamento, quando o Deus de Noé, de
Abraão e de Moises, intitulado Deus dos Exércitos, podia promover a matança de
povos inteiros que não professavam a mesma fé.
Lembra-nos
também das famigeradas cruzadas que levavam hordas de cavaleiros cristãos a uma
caça implacável dos mouros, ou cães infiéis, em guerras de extermínios e
saques.
Marcos
Feliciano vive, no entanto este mundo paralelo perfeito que ficou sepultado nas
paginas da história, como alguns de nossos capítulos mais vergonhosos. Alguém
precisa ter a coragem de dizer ao nobre deputado e santo pastor que o mundo em
que ele vive já acabou.
Neste
mundo real o buraco é mais embaixo e ele, como pastor deve abrir mão de sua
santidade para levar uma mensagem mais humana e digna aos seus seguidores e
fieis.
Já
como deputado precisa tomar consciência que é um funcionário a serviço da
democracia e como tal deve respeito ao País, a constituição e ao eleitor e
cidadão que o elegeu.
João Drummond
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