Logo após a condenação
de Marcos Aparecido, vulgo Bola, por morte e ocultação do corpo de Elisa
Samúdio, uma frase do advogado Ercio Quaresma chamou-me a atenção: “O resultado
do julgamento foi influenciado decisivamente por atuação da imprensa,
contrariando as provas dos autos.
Ou seja, o que ele
estaria a dizer é que, todo o processo e seu desfecho final poderia ter sido
diferente se o caso não estivesse sobre os holofotes da mídia.
Tive que concordar com
esta analise do controvertido advogado, e nem é por crer na inocência de Bola.
Reportei-me a alguns
anos atrás, na minha cidade, quando tive a infeliz oportunidade de presenciar
um crime bárbaro. Vi um sujeito, atirando em um velho mendigo pelas costas, na
rua e saindo, ao final impune num julgamento marcado pelo descaso das
autoridades e pelo medo de diversas testemunhas que, de prédios vizinhos
presenciaram a terrível cena.
O assassino em questão
era um homem corpulento, com claros problemas glandulares, afeto ao álcool e de
comportamento agressivo quando sob seu efeito.
Metia medo na redondeza
e a possibilidade de encontrá-lo, num elevador ou numa esquina próxima,
colocando em risco a integridade e a vida das pessoas, desestimulava qualquer
atitude mais corajosa por parte delas.
Sabiam que, se aquele
sujeito, com seus mais de cento e cinquenta quilos, partisse para cima, não haveria
sacristão, policia ou justiça que protegessem a vitima. Ele acabou inocentado
num júri popular, porque a versão construída pelas autoridades policiais, do
processo em questão, ficou falseada pelo medo e pela omissão.
A vítima era um velho mendigo,
que passara pela barraca de frutas do assassino, quando esta estava sob a
guarda de seu filho, uma criança de 12 anos, e subtraíra uma laranja. Sua pena
foi a morte com vários tiros desferidos pelas costas em plena rua, na presença
de moradores de prédios vizinhos, e sob os risos da referida criança.
No julgamento a vitima
foi transformada em perigoso criminoso, que ameaçava a criança, filho do
assassino, com uma faca, que misteriosamente aparecera nos autos, como prova.
Não havia mídia para denunciar,
provocar seu escarcéu e se contrapor às pressões que se abatem sobre as
testemunhas, por conta dos interesses particulares envolvidos em casos desta
natureza.
A vítima poderia ter sido
outro cidadão sem expressão, uma maria chuteira, por exemplo, que segundos seus
algozes, se consumida sem dó nem piedade, não implicaria em crime, já que o
especialista saberia como matar e desaparecer com o corpo.
A tese de que, sem
corpo não há crime, vai sendo vencida na moderna jurisprudência, pelo principio
da materialidade indireta. Os matadores profissionais não terão vida fácil
diante desta evolução.
No caso do Bola, a
atuação de advogados sem escrúpulos merece um artigo a parte. O réu contou com
vários deles que trabalhavam, vejam só que ironia, pelos holofotes da mídia. A
mesma que tanto criticaram e a atribuíram a responsabilidade pela vexatória
derrota no ringue jurídico.
Negar até mesmo um
enterro digno era parte do enredo macabro, como uma forma barata e se resolver
um problema que os incomodava. Quem iria duvidar da versão que ilustres
cidadãos forjariam, contra a de uma testemunha fantasma, e da qual só restavam agora
um filho recém nascido, e uma serie de retratos e filmes circulando pela
internet, para deleite do lado sombrio da natureza humana?
Quem sentiria falta de
uma oportunista, garota de programas que quis se dar bem, como outros o faziam,
em um meio corrompido e desprovido de valores, onde a regra é ganhar e levar
vantagens?
Ainda bem que a havia a
imprensa no caminho dos canalhas. Se eles se achavam deuses com poderes sobre a
vida e a morte, com poderes para ameaçar autoridades, intimidar testemunhas e
deturpar a verdade, foi justamente a imprensa o contraponto de pressão legitima
que impediu que mais um crime não passasse em branco, como outros, que se
tornaram em dados estatísticos, e consolidaram na cabeça de muitas pessoas que
vivemos e morreremos na pátria da impunidade.
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