Fala-se muito, nestes
conturbados tempos, na falência e dissolução da estrutura familiar, como o
principio e a causa de muitos problemas que a sociedade enfrenta hoje,
(violência, drogas, filhos abandonados, gravidez indesejada etc.)
Este é um tema
recorrente de interesse geral e de natureza genérica, mas como vivemos todos
enfronhados em uma teia social, e as questões particulares são peças do
quebra-cabeça coletivo, tomo a liberdade de me reportar às experiências
particulares como matéria prima deste artigo, que pode ser considerado, ao
mesmo tempo uma reflexão e um alerta.
Sou um dos catorze
irmãos de uma destas unidades familiares a que me referi, e me considero um
sujeito privilegiado.
Convivendo com todos os
problemas que toda família enfrenta, vi a minha própria enfrentando suas cotas
de crises e turbulências, mas como algumas outras, e diferente de muitas,
saindo fortalecida delas.
Assisti desde a minha
infância, o nosso barco familiar, passar por tempos de bonança e de tormentas,
navegando hora em mar de brigadeiro, hora se mantendo acima da linha d’ água
como por milagre.
Recentemente
comemoramos o 85º aniversario da minha mãe e pude perceber claramente a
dimensão de nossas conquistas na construção de um modelo familiar ao mesmo
tempo flexível e sólido, capaz de crescer e prosperar em tempos de vacas gordas
e de resistir e se adaptar em valores e referencias nos tempos de crise.
Todos os irmãos, muitos
netos e alguns bisnetos, alem, é claro, de outros parentes e amigos numa comemoração,
que ultrapassou a sua intenção. Podemos afirmar que este evento representou de
forma ampla a celebração da própria vida, com toda sua diversidade e
complexidade.
Neste ponto de nossa
jornada cabe uma indagação: Quais são os pilares que permitem a forja e a
sustentação de uma família bem estruturada?
Eu diria que são,
dentre outros, valores com integridade, honestidade, honradez, humanidade etc.,
considerados por muitos, como antiquados e descartáveis, dentro da celeridade e
do praticismo que a vida moderna se nos impõe.
Enquanto eu digeria os
alimentos orgânicos e psicológicos daquele encontro familiar, e para contraponto
das minhas teses, (como a vida é sabia!!!), continuando na linha de raciocínio
do particular para o geral, o Ivan, meu filho, que hoje mora e trabalha em São
Paulo, me ligou naquela madrugada, assustado dizendo que um grupo de
adolescentes de 13, 14, 15 anos havia invadido o prédio em que morava e
agredido violentamente um companheiro seu.
A seguir deu detalhes.
Aquele grupo de jovens eram moradores de blocos de apartamentos vizinhos, que
ficavam a noite nas redondezas, usando drogas e cometendo pequenos assaltos.
A tentar assaltar o tal
companheiro que voltava do trabalho, agrediram-no e atiçaram a ira de outro
amigo, que com uma faca passou a desafiar o grupo.
Este grupo foi ao seu
encalço e invadiu a garagem do prédio para agredi-lo. Todo mundo terminou
aquela noite na delegacia.
As perguntas: Como um
grupo de jovens (meninos e meninas) poderiam permanecer na rua até tarde,
usando drogas e onde estariam suas famílias para educá-los e conte-los?
As respostas a estas
questões podem ser as mesmas, ou estar próximas das questões sobre a violência
e perversidade crescentes que observamos, como sintomas de uma grave doença
social, em que somos a um só tempo, vítimas e algozes.
A falta de valores e
referencias está nos levando a clara falência do nosso modelo social a partir
da falência da estrutura familiar. Onde é que nós como seres humanos e
sociedade estamos falhando? Quais os
valores que deixamos para trás, como ultrapassados que temos agora que resgatar?
Talvez, só talvez, quem
sabe? (já que sonhar não custa nada) as respostas estejam nos encontros
familiares singelos, onde as diferenças, os ranços e as magoas cedam lugar à
maturidade e ao compartilhamento.
A alternativa é
sombria. Grupos ou tribos que se unem nas ruas e praças para comemorar a
degradação e selvageria, quando seus lares fracassaram na tarefa de acolhê-los,
protegê-los e lhes impor limites.
João Drummond
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