Artigo
no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por
Onofre Ribeiro
A
sensação de guerra civil vem crescendo no Brasil, num viés paralelo entre três
segmentos: o Estado através dos seus organismos ligados à segurança pública e à
justiça, os comandos organizados pelos “generais” dentro do sistema prisional,
e uma crescente construção de fileiras de indivíduos recrutadas aqui fora, a
partir dos presídios.
Uma
das definições de guerra civil é: “Diz-se guerra civil a um conflito armado
entre facções, partidos ou grupos de um mesmo povo, ou ainda a que ocorre entre
povos ou etnias habitantes de um mesmo país. (...) A guerra pode ter motivos
religiosos, étnicos, ideológicos, econômicos ou territoriais”. No caso
brasileiro é mais sério, porque toda a sociedade paga impostos que consomem dos
cidadãos quatro meses de trabalho por ano, mas sentem-se inseguros ou
desprotegidos por uma guerra civil entre facções do Estado e facções
criminosas.
A
origem da criminalidade urbana é recente. Começou depois de 1970 com a
urbanização brasileira e a marginalização de enormes camadas de pessoas que
vieram do meio rural para cidades que não se prepararam para receber os fluxos.
A favelização, a ausência de serviços essenciais de educação, de saneamento, de
saúde pública, de transportes, de pavimentação das ruas, de legalização dos
terrenos e o tratamento dos moradores como cidadãos de segunda classe. Sem
educação adequada formaram camadas de trabalhadores braçais ou de segunda
linha.
Nesse
ambiente proliferou a baixa auto-estima e a competição com os cidadãos de
primeira classe. Perdedores desde o início, os jovens dos últimos dez anos
nessa condição viram no crime a saída imediata para os seus anseios de
competição pelo consumo de bens pessoais, com um simples tênis ou roupas de
marca. Cooptados pelo chamado crime organizado, tudo o que está acontecendo são
jogos de mercado fáceis de serem compreendidos.
Paralítico
ou míope, o Estado preferiu lidar com essas situações com o discurso político
de ganha-ganha unilateral, não indo além da exploração dos votos dessas imensas
camadas urbanas, mediante promessas de soluções futuras. E se desculpando
sempre com a falta de recursos públicos, como essas camadas sociais não
pagassem impostos e fossem desvalidos sociais mais ou menos descartáveis.
Agora,
no momento em que eles se organizaram politicamente e tem comando centralizado
dentro dos presídios, protegidos pelo Estado e salvos de sanções legais, as
fileiras de soldados cá fora dos presídios se multiplica progressivamente e já
confronta o Estado, com suas velhas táticas. Hoje, prender já não significa nada.
No lugar do preso surgem novos voluntários, porque os “generais” presos nos
presídios estaduais ou nos de segurança máxima garantem às suas famílias,
renda, proteção, armas, planos de ação e um status social.
Aí
estão as raízes da atual guerra civil. Voltarei ao assunto.
Onofre
Ribeiro é jornalista em
Mato Grosso - onofreribeiro@terra.com.br
Postado
por Jorge Serra
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