(Eita casinho bom pra dar ibope!!!)
Já havia desistido de escrever sobre o assunto, mas não
dá para dispensar um tema que está na boca do povo, rendendo preciosos cliques
para blogs, sites e jornais.
Esta é a história que não quer calar. Ela sempre é
encontrada na mídia em duas versões tão distintas que parecem nada a ver uma com a outra.
Vou até fazer aqui um remake destas duas histórias que
escrevi no seu auge só por preguiça de pensar de novo.
Lá vai pela primeira vez neste canal, (se o SBT pode
porque não este autor que vos escreve?)
A História
A história de Cesare Battisti nos concede um campo de
estudo fascinante e estranho onde pelo menos dois enredos se abrem, como se
duas versões de um mesmo filme começassem a passar numa tela divida por tênue
cortina.
Na saída desta sessão cinéfilos confusos, passam a
discutir coisas diferentes, como fossem a mesma, e tentam encaixar dois universo
opostos, às leis de uma única realidade.
Não é possível. Os dois universos não se interpenetram
e não podem ser traduzidos numa única linguagem.
Filme I
Num dos filmes vemos A Itália como diz Pedro Del Picha
(repórter correspondente da Folha de São Paulo à época):
“O governo, propriamente, era constitucional,
democrático, com um Parlamento eleito pelo povo no pleito histórico de 1976,
quando o Partido Comunista Italiano quase venceu a Democracia Cristã. Aliás, o
PCI sempre foi contra os grupos terroristas, de esquerda e de direita.
Tachava-os de antidemocráticos.
Essa também era a opinião do presidente da República,
Sandro Pertini, que jamais poderia ser tachado de conivente com a direita.
Pertini, socialista histórico, uma lenda da esquerda européia, foi companheiro
de cárcere de Antonio Gramsci, ambos presos pelo regime fascista.
Umas das razões para o assassinato de Aldo Moro,
segundo inúmeros analistas, foi o fato de ele defender um entendimento direto
entre a Democracia Cristã e o PCI. O democrata-cristão e o então líder
comunista Enrico Berlinguer propugnavam por um "compromisso
histórico" - uma nova aliança entre as duas maiores forças políticas do
país, visando a governabilidade e os avanços administrativos que a Itália
requeria para superar o pântano da burocracia, a ineficiência crônica do Estado
e enfrentar os desafios da revolução tecno-científica que dava seus primeiros
sinais.
Este era o pano de fundo onde se criou a versão do
filme em que o protagonista Battisti fazia parte de um grupo chamado PAC que
visava declaradamente tomar de assalto o poder e implantar a "ditadura do
proletariado". Até no nome, por exemplo, a organização Proletários Armados
pelo Comunismo dizia a que vinha.
Neste cenário Cesare Battisti era um terrorista comum,
responsável pela morte de quatro pessoas e não um perseguido político por um
regime ditatorial. Ao contrário, na vigência do Estado de Direito, ele optou,
por vontade própria, pela subversão da democracia e, para isso, aceitou e
incentivou o recurso às armas e ao terrorismo.
Filme II
No outro filme que se passa na tela ao lado, o governo
da Itália é de extrema direita e apóia a operação Gládio que sob patrocínio do
EUA, promovia atentados em toda a Europa, tentando conter o avanço do
comunismo.
Em 1990, o primeiro ministro italiano confirmou que os
“deixados-atrás” do exército, denominado “Gladio” (espada), existiu desde 1958,
com a aprovação do governo italiano. No princípio dos anos 70, o apoio
comunista na Itália começou a crescer, de maneira que o governo mudou para uma “estratégia
da tensão” usando a rede do Gládio.
Em 1972 durante uma reunião extremamente secreta do
Gládio, um oficial sugeriu que se fizesse “um ataque preventivo” aos
comunistas. Como o jornal britânico The Guardian reportou as ligações entre o
Gládio na Itália, todos os três serviços secretos italianos e a ala italiana da
Loja Maçônica P2 eram muito bem documentados, porque os chefes de cada unidade
da inteligência eram membros da Loja P2.
A tática era de intimidação aos grupos de extrema
esquerda entre eles o Proletários Armados pelo Comunismo, do qual fazia parte
Cesare Battisti.
Neste cenário Battisti era um militante político na
luta pela democracia e pelo estado de direito.
Na Saída da
sala de dupla projeção
Dois filmes, duas versões da história. E o que se
passou de verdade ficará para sempre encoberto pelo manto do passado, ao sabor
das versões que, como um cardápio variado, se dispõe a escolha do que melhor
apetece aos nossos valores e crenças.
Com qual história nos identificamos mais? Qual faz
mais sentido para nós? Por isto fica difícil o debate critico sobre duas
películas diferentes, e que na verdade são versões de uma única história
sepultada definitivamente nos sítios arqueológicos do tempo.
Talvez a melhor atitude dos cinéfilos seja se descolar
das versões que escolheram inconscientemente e seguir adiante deixando para os
livros de história a árdua tarefa de contá-la as futuras gerações.
Isto porque a vida exige presença e atenção, e ficar
remexendo nos fantasmas do passado, com comprometimento emocional pode ser
inútil, cansativo e infrutífero.
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