Prestes
a ser julgado pelo supremo no processo 470, conhecido popularmente como Mensalão,
por corrupção ativa e formação de quadrilha, buscamos na história pretérita de
José Dirceu elementos que o estabelecem como personagem importante na luta contra
a ditadura e pela democratização do Brasil.
Seu
passado o condena ou o redime? Esta pergunta é pertinente porque este
julgamento estabelecerá dados importantes nesta história cujo desfecho ainda está
para ser escrito.
Como
a história o julgará a partir deste episódio? Como as futuras gerações ouviram
e contaram sua saga?
Esta é até o momento a história oficial
de José Dirceu
José
Dirceu iniciou sua militância política no movimento estudantil em 1965, ano em
que iniciou seus estudos de Direito na PUC-SP, sendo vice-presidente do
Diretório Central dos Estudantes (DCE) no período de 1965-66. Ainda em 1966
rompeu com o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e ajudou na formação paulista
das chamadas "Dissidências", em São Paulo a sigla era "DI-SP" (esta
organização acabou tendo enorme afinidade política com o grupo de Carlos
Marighella, que mais tarde viria formar a Ação Libertadora Nacional).
No
entanto, Dirceu nunca fez parte dos quadros da ALN. Em 1967 Dirceu, que era
conhecido pelo codinome de "Daniel", presidiu a União Estadual de
Estudantes (UEE), firmando-se como líder estudantil. Em 1968 foi preso em
Ibiúna, no interior de São Paulo, durante uma tentativa de realização do XXX
Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE).
Em
1969 os grupos guerrilheiros marxistas-lenistas conhecidos como MR-8 e ALN
seqüestraram o embaixador dos Estados Unidos da América, Charles Burke Elbrick.
Os revolucionários exigiram a libertação de uma lista de prisioneiros
políticos, entre eles José Dirceu. O incidente do seqüestro do embaixador foi
contado no livro "O Que É Isso, Companheiro?" (1979), de autoria do
deputado Fernando Gabeira (PV), posteriormente transformado em filme (Bruno
Barreto, 1997). Em 2007, o diretor Silvio-Da-Rin lançou o documentário
"Hércules 56", onde os protagonistas relatam em detalhes sobre o
episódio do sequestro e da libertação dos 15 presos. O filme dá voz também a
todos os que foram trocados pelo embaixador norte-americano e que ainda estão
vivos.
Os
presos trocados pelo embaixador, deportados do Brasil, seguiram para o México,
a bordo do avião da Força Aérea modelo C-130 Hércules, matricula 2456. De lá
seguiram para Cuba e Paris. Dirceu foi para Cuba. Durante o exílio, trabalhou,
recebeu treinamento militar, estudou na ilha.
Retornou
ao Brasil em 1971, vivendo clandestino em São Paulo e em algumas cidades do Nordeste. Em
1975, em Cuba, alterou sua aparência através de uma cirurgia plástica e
retornou ao Brasil, com o nome falso de "Carlos Henrique Gouveia de
Mello", instalando-se na cidade de Cruzeiro do Oeste, no Paraná. Lá
casou-se com sua primeira esposa, Clara Becker, e passou a viver em total
clandestinidade, omitindo seu passado e sua verdadeira identidade até mesmo de
sua esposa, para preservá-la de riscos. Em Cruzeiro, reservadamente,
acompanhava os acontecimentos políticos do país.
Em
1979, com a anistia, retornou a Cuba, desfez a cirurgia plástica e, em dezembro
de 1979, voltou definitivamente para o Brasil, onde passou a participar das
atividades políticas em curso, que deram origem ao PT.
Em
1986, foi eleito deputado estadual constituinte em São Paulo pelo PT,
exercendo mandato entre 1987 e 1991. No período, notabilizou-se pela forte
oposição à administração do então governador Orestes Quércia.
Em
1992, no exercício do mandato de deputado federal, foi o autor — ao lado do
senador Eduardo Suplicy — do pedido para a instalação da CPI que levou o então
presidente Fernando Collor de Mello ao impeachment. Dois anos depois foi o
candidato petista ao governo de São Paulo, mas acabou ficando em terceiro lugar
atrás de Mário Covas (PSDB) e Francisco Rossi (então no PDT).
Em
1995, foi indicado por Lula para disputar o encontro nacional do partido e
ganhar a presidência nacional do Partido dos Trabalhadores, cargo para o qual
se reelegeria em 1997 e 2001 (esta por eleições diretas entre filiados do PT).
Apogeu
e queda
José
Dirceu foi Ministro-Chefe da Casa Civil no governo do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva de 1 de janeiro de 2003 até 16 de junho de 2005, quando pediu
demissão do cargo de ministro, e voltou a seu antigo cargo de deputado federal
por São Paulo (era até então deputado licenciado) do Partido dos Trabalhadores.
Ocupou
o principal posto da coordenação política do governo, sendo tratado pela
imprensa como o homem forte da administração federal, a quem caberiam
efetivamente as decisões, um super-ministro ou "primeiro-ministro".
Sua
demissão ocorreu em meio à crise política que surgiu após denúncias de
corrupção nos Correios e em outras empresas estatais, vindas à tona após
acusações do deputado Roberto Jefferson. Reassumiu, então, seu mandato de
deputado federal.
Embora
a oposição tenha afirmado diversas vezes que o presidente tenha demitido o
ministro por reconhecer a culpa do mesmo, Lula nunca assumiu publicamente a
hipótese.
No
dia 1 de dezembro de 2005, aproximadamente à meia-noite e meia, José Dirceu
teve seu mandato cassado por quebra de decoro parlamentar. O placar da votação
foi de 293 votos a favor da cassação e 192 contra; com isso, José Dirceu ficou
inelegível até 2015. O relator do processo de cassação de José Dirceu no
Conselho de Ética da Câmara dos Deputados foi Júlio Delgado.
No
dia 30 de março de 2006, o procurador-geral da República, Antonio Fernando de
Souza, denunciou ao Supremo Tribunal Federal (STF), quarenta pessoas, entre
políticos e empresários, participantes do esquema do mensalão. O procurador
indiciou por crimes graves, como corrupção ativa, formação de quadrilha,
lavagem de dinheiro e peculato os ex-ministros do governo Lula José Dirceu
(Casa Civil), Anderson Adauto (ministro dos transportes) e o ex-ministro dos
transportes Luiz Gushiken (Comunicação Estratégica). Dirceu saiu do governo
federal por ser insustentável a sua permanência na Casa Civil, pressão esta
exercida pelo escândalo em que estava envolvido. O relator do caso no Supremo
Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa (nomeado por Lula), atribuiu a
liderança no esquema do "mensalão" a José Dirceu, José Genoino,
Delúbio Soares e Sílvio Pereira.
Após
ser o principal alvo das investigações do mensalão do PT, Zé Dirceu tornou-se —
para o público interno do PT — um símbolo de resistência por reproduzir a
imagem de perseguido.[1]
Mesmo
cassado, "volta à direção do PT, ignora as decisões do partido, cria
confusão com aliados, é repreendido por Lula e diz que isso não tem
importância".[2]
Em
23 de fevereiro de 2010, a
Folha de S.Paulo cita que Dirceu foi contratado por ao menos R$ 620 mil pela
principal empresa do grupo empresarial privado beneficiado com reativação da
estatal Telebrás. O dinheiro teria sido pago entre 2007 e 2009 pelo dono de uma
companhia sediada nas Ilhas Virgens Britânicas.[3] A oposição defende que a
reativação da estatal teria sido comandada por Dirceu para beneficiá-lo.[4]
Em
seu blog, Zé Dirceu comenta que "a Folha joga sujo para atacar plano de
banda larga do governo e me atingir".[5]
Em
palestra no dia 13 de setembro de 2010 para sindicalistas do setor petroleiro
em Salvador, José Dirceu teria declarado que "o problema do Brasil é o
monopólio das grandes mídias, o excesso de liberdade e do direito de expressão
e da imprensa".[6] A fala, divulgada no site do diretório do PT da Bahia,
foi posteriormente desmentida por Dirceu, que negou ser de sua autoria. O
presidente do diretório baiano atribuiu sua divulgação a um "equívoco da
assessoria de imprensa do partido".
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