domingo, 18 de novembro de 2012

Penso, Logo Desisto (mesmo pensando positivo)


Pensando bem...pensar dá trabalho. Desde o advento do poder do pensamento positivo, sob os auspícios do Dr. Dale Carniege e posteriormente do seu discípulo brasileiro, o Dr. Lair Ribeiro, tenho feito o exercício, todo santo dia ao acordar, de repassar mentalmente as tarefas por resolver a curto prazo, e antes de dormir, um balanço positivo do que foi resolvido efetivamente naquele dia. Dedico-me também nestes entre - espaços a viajar na maionese dos meus sonhos.
Pensamos sempre com metas de curto, médio e longo prazo, com o objetivo de alcançarmos as sonhadas prosperidade e felicidade.
Vez por outra estes pensamentos tão bem dirigidos, são atacados e vencidos por idéias degradantes e pensamentos negativos, estes pequenos invasores vindos, sabe Deus de que tempo e lugar.
Talvez de nossos arquivos mentais ou de alguma radio transmissora de alta freqüência, quem sabe operada da outra dimensão, pelo mal afamado Murphy, propositor da famigerada lei que leva o seu nome.
Mesmo com todo o poder do pensamento positivo, nestes tempos cabeludos, a Lei de Murphy acaba por prevalecer, em muitas destas tentativas de resolver problemas do cotidiano, e de construir os planos para o futuro.

Enquanto penso nas vendas por fechar, lembro-me do sócio rabugento dizendo que se não vendermos mais a firma vai quebrar.
Quando me vejo sobre Mediterrâneo, pilotando meu próprio avião, no noticiário estão dizendo: subiu o preço do feijão.
Num momento estou fazendo planos para a minha futura vida milionária, logo minha mulher me lembra que tenho que comprar remédio para infecção urinaria.
Estou me vendo nas férias, esquiando nas montanhas nevadas de Bariloche.
─ Porque você não passa as férias em Pirapama? Meu filho ensaia em deboche.
Em outro momento estou caminhando pelas praças e ruas de Paris.
Minha filha me pede para comprar remédio para entupimento de nariz.
Quando estou fazendo as contas para comprar ações da Aracruz, minha mulher me lembra que tenho que pagar a conta de luz.
Estou velejando no meu iate milionário. Diz a empregada que deu cupim na porta do armário.
Em meus sonhos levo uma vida bem sucedida e agitada. Alguém grita para chamar o bombeiro porque entupiu a privada.
Estou pensando em voz alta sobre os planos para comprar um carro importado. Minha mulher me interrompe: ─ Mas antes vá até mercearia e me traga palmito enlatado.
Em momentos de baixo astral, percebemos que nossos grandiosos sonhos são sabotados, ainda na prancheta do imaginário, pelos pequenos e inconvenientes problemas do cotidiano.
Nossa muralha de otimismo e atitude positiva, construída com horas e horas de meditação e reflexão, às vezes ameaça desabar, diante destes dissabores do dia a dia, que como os cupins na porta do armário, tentam sem descanso nos levar a derrocada final.
Já ouvimos mais de uma vez que não devemos nos levar muito a serio, e que uma de nossas maiores habilidades, quanto sobreviventes, é sabermos rir de nós mesmos.
Neste processo de refluir do pensamento vamos aprendendo que sonhos são apenas sonhos e que podem se realizar ou não. Aprendemos também a desmistificar algumas crenças que desenvolvemos desde cedo, a respeito de sucesso, prosperidade, felicidade, poder e status.
Entre estes pensamentos conflitantes tão bem representados por mestres como Dale Carniege, Lair Ribeiro, e Murphy, e as experiências do cotidiano, entremeadas pelos sonhos e utopias vamos construindo um modelo que é só nosso.
É com estes modelos pessoais e exclusivos que acreditamos um dia arrogantemente, podermos mudar o mundo, e no final refluímos para objetivos mais modestos, como mudarmos apenas a nos mesmos, nos tornando pessoas melhores a cada dia.
Quem sabe fazendo com que, alem das nossas cinzas e heranças, nossas idéias nos sobrevivam alem, muito alem, do poder, do status e da gloria pessoal que poderíamos conquistar ou ter conquistado. Talvez até fazendo a diferença para alguém que realmente precise delas, quando estiver a atravessar o mar revolto e turbulento de seu próprio pensamento.


                                                                   João Drummond





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