quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O Supremo desembargou os Infringentes



O Supremo supra-sumo Tribunal Federal tem pelo menos um mérito: colocar palavras e termos novos em nosso coloquial diálogo cotidiano.
A mais nova expressão que percorre como um tsunami a mídias faladas, caladas, televisivas, teleguiadas, escritas e malditas, é, adivinhem, “embargos infringentes”.
Em todo lugar é a mesma coisa, um sujeito diz em alto e bom tom para um amigo:
  Você viu cara!!! O Supremo aprovou os embargos infringentes.
O outro não sabia patavina do que se tratava, mas não pode se mostrar desinformado:
  É mesmo? Isto é grave, mas não me admira, o Supremo já fez coisa bem pior no passado.
E o outro retrucava:
É verdade. Bem pior.
Então fica uma discussão inútil e sem sentido sobre um termo jurídico que nada diz ao cidadão comum que paga todas as contas e emprega com seu voto todos os políticos e pilantras deste imenso Brasil varonil.
Alguns ministros já afirmaram que não dão a mínima para a opinião do povo. Afinal ele só vota e paga as contas.
Mas traduzindo para o popular “embargos infringentes foi a forma encontrada pela maioria do Supremo para assar a pizza do malfadado mensalão.
Se Suas Excelências (ou seria santidade?) abrissem mão da morosa hipocrisia que reina soberana naquela nobre corte, diriam que embargos infringentes é a mais nova gambiarra jurídica encontrada para abrir a porta da cadeia de Dom José Corleone Dirceu e seus asseclas.
E lá vamos nós tomarmos mais alguns meses (ou anos) de mensalão na veia por conta destas estripulias dos doutos supremos da lei. Isto com prejuízo do outros milhares de processos que se enfileiram todos os dias a agenda da Corte Suprema. Até parece que neste país o único crime que merece atenção exclusiva é o mensalão.
Eita povo que sofre.  Pagar, votar e não apitar nada.
E a tal democracia “do povo, pelo povo e para o povo” que os magistrados se encarregam de citar no inicio de cada pedante, confuso e pomposo voto?
E olha que suas santidades se elegeram para o cargo com o voto de um único eleitor: o presidente da Republica das bananas das Brasil.
Para que tomar tanto tempo, recursos, e de quebra, torrar o saco do contribuinte com meses a fio de prolongadas e inúteis sessões, se a intenção final é livrar da cadeia ladrões de colarinho branco?
Que se livre logo a cara dos sacripantas e os mandem em viagem de férias sem volta para Trinidad Tobago e comecem vossas excelências a tratar do que importa de verdade para o Brasil.
Ou, como diria Stanislaw Ponte Preta: “se é para tudo terminar em pizza, que pelo menos ela seja servida a toda grande nação tupiniquim de aquém mar.

João Drummond








domingo, 28 de julho de 2013

A AUTO-HEMOTERAPIA E A DESCONSTRUÇÃO DA CIÊNCIA

Autor: Dr. Alessandro Loiola

Um saudoso professor costumava nos dizer, enquanto fazia sua corrida matinal de leitos:
 ― Vocês um dia estarão lá fora, clinicando e tratando seus pacientes, e devem saber o quanto antes que a medicina não é, nem nunca pretendeu ser, uma ciência exata, isenta de falhas. Assim que receberem seus carimbos, vocês verão que nossa vida profissional é uma eterna alternância entre 3 grandes categorias de médicos.
 Ele fazia uma pausa, segurando um prontuário qualquer, como o bom ator que espera sua deixa, e então alguém perguntava:
 ― Quais categorias, professor?
 Levantando as sobrancelhas e olhando por cima dos óculos, sem largar o prontuário, ele concluía solenemente:
 ― Os que erram muito, os que erram pouco e os que só erram.
 Essa história me veio à cabeça quando, durante um intervalo no hospital, uma auxiliar de enfermagem veio me perguntar assim, na surdina, como quem conta um segredo terrível ou uma infidelidade digna da Santa Inquisição: 
 ― Doutor, o que o senhor acha da auto-hemoterapia?
 E eu que achei que este assunto estava morto e enterrado. Mas não está. Graças a um posicionamento absolutamente precipitado das sociedades de especialistas, a auto-hemoterapia foi banida da prática médica.
 Sob o pretexto de que “não existem evidências científicas favoráveis comprovando sua eficácia”, a auto-hemoterapia foi execrada ao limbo da charlatanice. De quebra, ao fazer propaganda da técnica, o médico carioca Dr. Luiz Moura terminou tendo seu registro cassado no Rio de Janeiro em 12 de dezembro de 2007. Mas isso não fez a auto-hemoterapia desaparecer – ela ainda acontece, na penumbra. 
 Não sou defensor da auto-hemoterapia. Concordo com seus acusadores: realmente faltam evidências sólidas. Mas, pensando cá com meus botões, então não seria o caso de ir atrás destas evidências, sejam elas boas ou desfavoráveis? Bastaria seguir os mesmos protocolos de pesquisas clínicas utilizados há décadas para avaliar novos antiinflamatórios, novos antibióticos, novas próteses, novas tecnologias - vide desde a cirurgia videolaparoscópica até os recentes avanços nas pesquisas com células-tronco. 
 Mas não, não houve racionalidade ao lidar com a auto-hemoterapia. Houve, sim, uma deterioração da ciência em prol de uma agenda obscura de intolerância com o novo. Curiosamente, uma agenda brandida com ares de indignação pelos mesmos bispos que deveriam defender o pensamento científico livre, leve e solto. 
 Como seremos capazes de enxergar o novo se continuamos saindo de casa doutrinados para ver somente as mesmas coisas de sempre? 
 Se você já estudou termodinâmica, certamente conhece a escala de Kelvin de temperaturas absolutas, batizada em nome do gênio William Thomson, brilhante matemático e físico irlandês também conhecido como Lorde Kelvin. Dentre as inegáveis contribuições deste homem à ciência, constam algumas bem embaraçosas. 
 Apesar de ser um profundo conhecedor da engenharia e da eletricidade, em 1895 Lord Kelvin profetizou: “máquinas voadoras mais pesadas que o ar não são possíveis”. Em 1897, outra pérola: “o rádio não tem futuro e os raios-X são um embuste!”. E, na aurora do Século XX, encenou sua derradeira e mais célebre escorregadela ao dizer que “a física já descobriu praticamente tudo que havia para descobrir no Universo”. Um certo Albert Einstein mostraria alguns anos depois que o buraco era um pouco mais embaixo. 
 A ciência biomédica está repleta de equívocos semelhantes, opiniões jogadas ao ar antes de serem submetidas ao escrutínio do método científico. Frases de efeito que mais parecem frases de defeito. 
 "A teoria dos germes de Louis Pasteur é uma ficção ridícula", escreveu Pierre Pachet, Professor de Fisiologia em Toulouse, 1872.
”O abdome, o tórax e o cérebro permanecerão para sempre além do alcance de qualquer cirurgião humano”, disse, em 1873, Sir John Eric Ericksen, cirurgião da coroa britânica. "Não teremos artrite no ano 2000”, vaticinou o famoso reumatologista Dr. William S. Clark, em 1966. 
 Ah, nada como o tempo para mostrar que o futuro não é mais aquilo que costumava ser... 
 Enquanto a orgulhosa ciência médica torna-se ela própria uma forma religião, escravizada no apego irrestrito às normas e preceitos em detrimento da lógica, me pergunto: estamos construindo faculdades de medicina ou igrejas, templos e seitas que pregam não o amor à ciência e à curiosidade altruísta, mas uma louvação cega a dogmas empoeirados? 
 Nesta fogueira tão antiga, onde o preconceito ainda reina como cultura, a auto-hemoterapia e o ex-Dr. Luiz Moura foram apenas os gravetos mais recentes. Outros virão. É preciso alimentar a chama. Valha-me Santo Prometeu, filho de Jápeto! Amém.


quarta-feira, 19 de junho de 2013

O Brasil reivindica... um novo Brasil!!!



O movimento começou em São Paulo, como quem não quer nada, contra o aumento das passagens de ônibus. Não foi levado muito a serio e nem compreendido pela maioria da população.
A informação de que o valor de três mil reais, pagos por alguns líderes do movimento, como fiança, vinha corroborar que o movimento tinha conotação política, e vinha sendo manipulado por interesses escusos.
Na seqüência, a resposta, considerada exagerada da policia provocou um efeito em cascata, e o movimento cresceu, em dimensão e intensidade, ganhando as ruas de outras cidades e ampliando sua pauta de reivindicações.
O mau serviço público, a burocracia burra e ineficaz, a corrupção em todos os poderes e níveis de governo, a violência crescente contra o cidadão, o sinais de retorno da inflação, a falta de saúde e educação de qualidade, somados aos gastos exorbitantes na organização da Copa das Confederações e da Copa do Mundo, a impunidade, para os crimes em geral e em especial para os de colarinho branco, as tentativas de se controlar e diminuir os mecanismos, mais eficientes de investigação de crimes contra a administração publica, a falta de respostas eficientes da justiça em casos como o mensalão.
Ficou claro que o grande catalisador deste movimento, foi a soma das frustrações, da perda de paciência, de todos os sentimentos de repudio e revolta, contra um regime que envelheceu e apodreceu, se distanciando cada vez mais dos interesses públicos e da voz das ruas.
Os políticos se acostumaram  com estas praticas mesquinhas e odiosas de se valer do povo apenas para se eleger, e depois passar os quatro anos de mandato se arrastando no congresso em negociatas e acordos espúrios que apenas respondem a interesses particulares e de aliados.
O povo, este é apenas o detalhes sem importância.  Que se dane. Os partidos governistas, estes sim adormeceram em berço esplêndido, ofuscados pela conquista do poder e pelo controle acachapante das instituições e mecanismos da democracia, via bolsas “qualquer coisa”.
Está cada vez, mais claro que o brasileiro não mais se contenta apenas com pão e circo. A cidadania de segunda categoria não nos serve mais. Os nossos governantes devem ouvir e sintonizar com esta voz angustiada e afoita, que ecoa pelas ruas e que reivindica com toda a força de sua nacionalidade um novo Brasil.



                                              João Drummond

terça-feira, 21 de maio de 2013

Quem tem medo de Joaquim Barbosa?



Durante palestra proferida para alunos em universidade de Brasília, algumas falas do Ministro Joaquim Barbosa, presidente do STF, repercutiram na mídia e calaram fundo no congresso.
Mesmos sendo amenizadas depois, em nota oficial do STF, as “verdades” proferidas pelo ministro continuam a ecoar entre a opinião publica, como alerta e um ponto de reflexão sobre nosso ultrapassado e frágil sistema político.
O mais incrível desta historia é que Joaquim Barbosa não disse nenhuma novidade e nenhuma inverdade. Mas como a verdade dói!!!
“O Congresso Nacional é dominado pelo executivo”.
“Temos um congresso de mentirinha”.
“A política partidária é mais estomacal que ideológica”.
“Puxadores de voto elegem, por formação de coeficiente eleitoral, políticos aventureiros e sem representatividade popular”.
“Partidos políticos, no congresso não tem identificação com o povo”.
“A nossa macro política á pulverizada num amontoado de siglas sem caráter e sem ideologia”.
Estes e outros conceitos estão presentes no pensamento popular, e são ditos e repetidos exaustivamente pelo cidadão, dentro da péssima avaliação que ele faz da política e dos políticos.
As palavras de Joaquim Barbosa, proferidas em ambiente universitário, com o intuito de promover o debate e instigar o espírito critico, cumpriram o seu propósito. Não dá para supor que ao dizê-las, o ministro não imaginasse que elas extrapolariam, os limites do auditório e ganhariam a mídia como uma critica direta ao congresso, aos políticos e ao executivo.
Supor também que este seja um pensamento exclusivo e solitário do ministro Joaquim Barbosa é apostar na ingenuidade. Muitas verdades, para serem ditas precisam de vozes corajosas e de notória credibilidade. E ainda que sejam depois minimizadas ou mesmo desmentidas, continuam conduzir seu conteúdo e promover debates e polemicas.
As verdades doem e incomodam, mas devem ser ditas e caberá sempre a alguém, considerado inconveniente e dissonante a tarefa ingrata. A reforma política no Brasil se mantém ha décadas em compasso de espera, como um defunto enterrado em cova rasa.
O problema é que sua solução passa necessariamente por cortes profundos na carne do congresso, e a não ser que a sociedade cobre com a devida força, esta questão estará sempre sendo lançada para o próximo exercício... e o próximo... e o próximo.
Para o bem da nossa democracia, é crucial que outras vozes corajosas e inconvenientes se somem a do ministro Joaquim Barbosa, numa cruzada que, a exemplo de outras de mesma envergadura, do nosso passado remoto e recente mudaram a cara do Brasil.
Por isto tudo, Reforma política já. Assim como um dia tivemos:
(Independência do Brasil - Proclamação da Republica – Abolição da escravatura - Direitos políticos das mulheres - Luta contra a ditadura - Diretas para presidente – Combate a corrupção etc.).


                                                    João Drummond 

sábado, 11 de maio de 2013

Pátria Amada, Brasil! (do melhoral ao estomazil)




Vivemos um tempo de poucas certezas, muitas dúvidas e milhares de polemicas. Já me vangloriei um dia de ter aquela velha opinião formada sobre tudo, mas me lembro também de ter dito em outra oportunidade, que preferia ser uma metamorfose ambulante.
Hoje não sei mais. Está tudo tão estranho, diferente. Antigamente, se você tinha uma dor de cabeça, nada que um melhoral não resolvesse. Hoje, antes de tomar um comprimido banal, é preciso saber primeiro se é gripe ou dengue. Os sintomas são muitas vezes parecidos, e as duas podem matar.
Antigamente, crianças de 15 ou 16 anos jogavam bola nas ruas, hoje assaltam, estupram e matam. Não que eu seja saudosista, mas aqueles tempos me parecem, visto sob a ótica atual, mais simples e fáceis de serem vividos.
O padre ou pastor celebravam missas, dirigiam cultos, hoje arrecadam dinheiro dos fieis para sustentar seus vícios e regalias, isto sem falar na pedofilia.
O policial protegia a sociedade, prendia bandidos, promovia a lei e a ordem, hoje compete em gênero, numero e grau com a bandidagem, e pior resguardado pela farda e financiado com as verbas do contribuinte.
Político que se prezasse estava acima de qualquer suspeita e palavras como honra e ética tinha um significado real e factível, hoje não passam de clichês de campanha.
Temos que nos apressar e tomar posição sobre algumas questões polemicas como: maioridade penal, aborto, união homo, pena de morte, eutanásia, internação compulsória, progressão de pena, divórcio, descriminalização das drogas, cota racial, homofobia, liberdade de expressão, lei seca, etc.
Tá difícil.  Não dá para simplesmente dizer “pare o mundo que eu quero descer”. Os ladrões de antigamente só roubavam e iam embora, já os de hoje roubam, estupram, matam e vão embora, tudo sob os olhares banais das câmeras eletrônicas. Sabem eles que diante de falta de vagas em presídios e da morosidade da justiça logo estarão de novo na ativa, principalmente se forem menores. O ideal e serem menores de idade, maiorais no crime e gigantes em maldade.
Até mesmo os juízes da suprema corte podem ser questionados pelos bandidos, bandoleiros e mensaleiros que eles condenam.
Todas as certezas caíram por terra, já que, como Einstein apregoava, “tudo é relativo”.
Ninguém mais assume responsabilidades por seus atos, uma vez que frases vazias como: sou inocente, não sabia, ou eu não estava lá, ganharam força de lei.
Antes o crime era uma exceção. Hoje, para não fugir à regra geral até na Internet a bandidagem come solta. É vírus que não acaba mais para todos os gostos e desgostos. Alguns e-mails chegam a ser ridiculamente repetitivos. Todo santo dia eu ganho milhares, milhões de dólares de falsas loterias internacionais, dezenas de adivinhos ou médiuns tem todas as respostas sobre o meu futuro. Isto sem que eu pergunte nada.
E-mails misteriosos chegam me oferecendo remédios para ejaculação precoce, ou falta de ereção. Falsas mensagens de bancos avisam que tenho que atualizar o dispositivo, ainda que eu não tenha e nunca tenha tido conta no tal banco.
A justiça, em sua cautela máxima como operadora do direito, exerce diuturnamente as maiores injustiças, já que arremessa para futuro incerto e desconhecido o ultimo bater do martelo. (haja recursos).
Temos duvidas se vivemos num estado democrático de direito ou numa terra de ninguém, sem lei e sem ordem. (Ordem e Progresso é nosso lema). É de embrulhar o estomago.
Ao fim de um dia de trabalho árduo, de ter pagado todos nossos impostos e de ter assimilado todas as informações que nós cidadãos temos por direto e dever, haja estomazil para engolir e digerir o que um dia foi uma Pátria Amada, e hoje não passa de simplesmente um país chamado Brasil, a terra em que se plantando tudo dá, e onde o crime cresce e floresce como erva daninha. 

                                                                 João Drummond


quarta-feira, 1 de maio de 2013

Repensando a Família (Entre o Encontro e o Abandono)


Fala-se muito, nestes conturbados tempos, na falência e dissolução da estrutura familiar, como o principio e a causa de muitos problemas que a sociedade enfrenta hoje, (violência, drogas, filhos abandonados, gravidez indesejada etc.)
Este é um tema recorrente de interesse geral e de natureza genérica, mas como vivemos todos enfronhados em uma teia social, e as questões particulares são peças do quebra-cabeça coletivo, tomo a liberdade de me reportar às experiências particulares como matéria prima deste artigo, que pode ser considerado, ao mesmo tempo uma reflexão e um alerta.
Sou um dos catorze irmãos de uma destas unidades familiares a que me referi, e me considero um sujeito privilegiado.
Convivendo com todos os problemas que toda família enfrenta, vi a minha própria enfrentando suas cotas de crises e turbulências, mas como algumas outras, e diferente de muitas, saindo fortalecida delas.
Assisti desde a minha infância, o nosso barco familiar, passar por tempos de bonança e de tormentas, navegando hora em mar de brigadeiro, hora se mantendo acima da linha d’ água como por milagre.
Recentemente comemoramos o 85º aniversario da minha mãe e pude perceber claramente a dimensão de nossas conquistas na construção de um modelo familiar ao mesmo tempo flexível e sólido, capaz de crescer e prosperar em tempos de vacas gordas e de resistir e se adaptar em valores e referencias nos tempos de crise.
Todos os irmãos, muitos netos e alguns bisnetos, alem, é claro, de outros parentes e amigos numa comemoração, que ultrapassou a sua intenção. Podemos afirmar que este evento representou de forma ampla a celebração da própria vida, com toda sua diversidade e complexidade.
Neste ponto de nossa jornada cabe uma indagação: Quais são os pilares que permitem a forja e a sustentação de uma família bem estruturada?
Eu diria que são, dentre outros, valores com integridade, honestidade, honradez, humanidade etc., considerados por muitos, como antiquados e descartáveis, dentro da celeridade e do praticismo que a vida moderna se nos impõe.
Enquanto eu digeria os alimentos orgânicos e psicológicos daquele encontro familiar, e para contraponto das minhas teses, (como a vida é sabia!!!), continuando na linha de raciocínio do particular para o geral, o Ivan, meu filho, que hoje mora e trabalha em São Paulo, me ligou naquela madrugada, assustado dizendo que um grupo de adolescentes de 13, 14, 15 anos havia invadido o prédio em que morava e agredido violentamente um companheiro seu.
A seguir deu detalhes. Aquele grupo de jovens eram moradores de blocos de apartamentos vizinhos, que ficavam a noite nas redondezas, usando drogas e cometendo pequenos assaltos.
A tentar assaltar o tal companheiro que voltava do trabalho, agrediram-no e atiçaram a ira de outro amigo, que com uma faca passou a desafiar o grupo.
Este grupo foi ao seu encalço e invadiu a garagem do prédio para agredi-lo. Todo mundo terminou aquela noite na delegacia.
As perguntas: Como um grupo de jovens (meninos e meninas) poderiam permanecer na rua até tarde, usando drogas e onde estariam suas famílias para educá-los e conte-los?
As respostas a estas questões podem ser as mesmas, ou estar próximas das questões sobre a violência e perversidade crescentes que observamos, como sintomas de uma grave doença social, em que somos a um só tempo, vítimas e algozes.
A falta de valores e referencias está nos levando a clara falência do nosso modelo social a partir da falência da estrutura familiar. Onde é que nós como seres humanos e sociedade estamos falhando?  Quais os valores que deixamos para trás, como ultrapassados que temos agora que resgatar?
Talvez, só talvez, quem sabe? (já que sonhar não custa nada) as respostas estejam nos encontros familiares singelos, onde as diferenças, os ranços e as magoas cedam lugar à maturidade e ao compartilhamento.
A alternativa é sombria. Grupos ou tribos que se unem nas ruas e praças para comemorar a degradação e selvageria, quando seus lares fracassaram na tarefa de acolhê-los, protegê-los e lhes impor limites.

                                                                            João Drummond

segunda-feira, 29 de abril de 2013

A Mídia e os Casos Jurídicos Rumorosos


Logo após a condenação de Marcos Aparecido, vulgo Bola, por morte e ocultação do corpo de Elisa Samúdio, uma frase do advogado Ercio Quaresma chamou-me a atenção: “O resultado do julgamento foi influenciado decisivamente por atuação da imprensa, contrariando as provas dos autos.
Ou seja, o que ele estaria a dizer é que, todo o processo e seu desfecho final poderia ter sido diferente se o caso não estivesse sobre os holofotes da mídia.
Tive que concordar com esta analise do controvertido advogado, e nem é por crer na inocência de Bola.
Reportei-me a alguns anos atrás, na minha cidade, quando tive a infeliz oportunidade de presenciar um crime bárbaro. Vi um sujeito, atirando em um velho mendigo pelas costas, na rua e saindo, ao final impune num julgamento marcado pelo descaso das autoridades e pelo medo de diversas testemunhas que, de prédios vizinhos presenciaram a terrível cena.
O assassino em questão era um homem corpulento, com claros problemas glandulares, afeto ao álcool e de comportamento agressivo quando sob seu efeito.
Metia medo na redondeza e a possibilidade de encontrá-lo, num elevador ou numa esquina próxima, colocando em risco a integridade e a vida das pessoas, desestimulava qualquer atitude mais corajosa por parte delas.
Sabiam que, se aquele sujeito, com seus mais de cento e cinquenta quilos, partisse para cima, não haveria sacristão, policia ou justiça que protegessem a vitima. Ele acabou inocentado num júri popular, porque a versão construída pelas autoridades policiais, do processo em questão, ficou falseada pelo medo e pela omissão.
A vítima era um velho mendigo, que passara pela barraca de frutas do assassino, quando esta estava sob a guarda de seu filho, uma criança de 12 anos, e subtraíra uma laranja. Sua pena foi a morte com vários tiros desferidos pelas costas em plena rua, na presença de moradores de prédios vizinhos, e sob os risos da referida criança.
No julgamento a vitima foi transformada em perigoso criminoso, que ameaçava a criança, filho do assassino, com uma faca, que misteriosamente aparecera nos autos, como prova.
Não havia mídia para denunciar, provocar seu escarcéu e se contrapor às pressões que se abatem sobre as testemunhas, por conta dos interesses particulares envolvidos em casos desta natureza.
A vítima poderia ter sido outro cidadão sem expressão, uma maria chuteira, por exemplo, que segundos seus algozes, se consumida sem dó nem piedade, não implicaria em crime, já que o especialista saberia como matar e desaparecer com o corpo.
A tese de que, sem corpo não há crime, vai sendo vencida na moderna jurisprudência, pelo principio da materialidade indireta. Os matadores profissionais não terão vida fácil diante desta evolução.
No caso do Bola, a atuação de advogados sem escrúpulos merece um artigo a parte. O réu contou com vários deles que trabalhavam, vejam só que ironia, pelos holofotes da mídia. A mesma que tanto criticaram e a atribuíram a responsabilidade pela vexatória derrota no ringue jurídico.  
Negar até mesmo um enterro digno era parte do enredo macabro, como uma forma barata e se resolver um problema que os incomodava. Quem iria duvidar da versão que ilustres cidadãos forjariam, contra a de uma testemunha fantasma, e da qual só restavam agora um filho recém nascido, e uma serie de retratos e filmes circulando pela internet, para deleite do lado sombrio da natureza humana?
Quem sentiria falta de uma oportunista, garota de programas que quis se dar bem, como outros o faziam, em um meio corrompido e desprovido de valores, onde a regra é ganhar e levar vantagens?
Ainda bem que a havia a imprensa no caminho dos canalhas. Se eles se achavam deuses com poderes sobre a vida e a morte, com poderes para ameaçar autoridades, intimidar testemunhas e deturpar a verdade, foi justamente a imprensa o contraponto de pressão legitima que impediu que mais um crime não passasse em branco, como outros, que se tornaram em dados estatísticos, e consolidaram na cabeça de muitas pessoas que vivemos e morreremos na pátria da impunidade.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

O Mundo de Feliciano





O mundo do pastor-deputado Marcos Feliciano é um mundo diferente do nosso, pobres mortais, cidadãos comuns, pagantes, votantes, leitores, eleitores e consumidores.
Situa-se talvez em algum universo paralelo, onde as certezas podem ser absolutas e as verdades inquestionáveis, pois que advêm da direta comunicação com o deus que lhe sustenta a fé.
Neste seu mundo Marcos Feliciano é um homem feliz, já que não precisa conviver com os dilemas, as duvidas e as incertezas que nos acossam no dia a dia, e para todo o sempre.
Marcos Feliciano, do alto do seu púlpito ou da cadeira de presidente da comissão de direitos humanos da câmara, age e fala de uma só maneira. Afinal ele é o homem ungido por Deus, cheio do Espírito Santo que chegou àquela comissão que antes era dominada por satanás. 
O povo que protesta e que pede sua saída da comissão que se dane. A comissão, segundo ele, é de direitos humanos e não pode servir aos agentes do capeta. E o problema é resolvido deixando a turba ignara e enfurecida fora das sessões que ele preside. Simples assim como tudo o é no mundo de Feliciano.
Os africanos são, segundo seu santo pensamento, descendentes da tribo amaldiçoada de Abraão, e, portanto vivem no sofrimento que merecem. Os gays e as lésbicas são agentes de linha de frente nesta guerra declarada que Lúcifer promove contra Deus, pela derrocada da consciência humana.
É dele também algumas frases preciosas de sua pregação religiosa, quando ungido pelo Espírito Santo em seu mundo perfeito, afirma em alto e bom tom que quem matou John Lenon não foi um fã maluco e fanático, mas o próprio Deus em pessoa (ou em espírito?). Ele diz textualmente que Deus deu três tiros em Lenon, (um pelo o Pai, outro pelo o Filho e um terceiro pelo Espírito Santo), porque Lenon teria dito que os Beatles seriam mais famosos que Jesus Cristo.
Mas o pastor Feliciano se supera quando afirma também no púlpito de sua Igreja, que Deus matou também os Mamonas Assassinas, porque eles estavam botando palavras torpes nas bocas das nossas crianças.
Nestes pensamentos deturpados de Feliciano todos os crimes são justos e justificados, quando a vitima é pobre, preta, prostituta, gay ou lésbica, ou simplesmente vitima de acidente, porque a ação de Deus pode descer justiceira e implacável pelas mãos e armas de qualquer assassino e psicopata, ou por obra do acaso, promovendo desta maneira a mais estranha e absurda justiça divina.
Marcos Feliciano se vale desta forma da mais perigosa forma de preconceito que podemos conceber nestes conturbados e difíceis tempos, o preconceito religioso, fundamentalista.
Se apossar das palavras de Deus e dominar desta forma multidões de fieis e arrebatados cordeiros, nos leva às passagens do antigo testamento, quando o Deus de Noé, de Abraão e de Moises, intitulado Deus dos Exércitos, podia promover a matança de povos inteiros que não professavam a mesma fé.
Lembra-nos também das famigeradas cruzadas que levavam hordas de cavaleiros cristãos a uma caça implacável dos mouros, ou cães infiéis, em guerras de extermínios e saques.
Marcos Feliciano vive, no entanto este mundo paralelo perfeito que ficou sepultado nas paginas da história, como alguns de nossos capítulos mais vergonhosos. Alguém precisa ter a coragem de dizer ao nobre deputado e santo pastor que o mundo em que ele vive já acabou.
Neste mundo real o buraco é mais embaixo e ele, como pastor deve abrir mão de sua santidade para levar uma mensagem mais humana e digna aos seus seguidores e fieis.
Já como deputado precisa tomar consciência que é um funcionário a serviço da democracia e como tal deve respeito ao País, a constituição e ao eleitor e cidadão que o elegeu.


                                                               João Drummond

sábado, 6 de abril de 2013

Coréia do Norte – O Rato que Ruge



“Um pequeno país em grave crise financeira declara guerra aos Estados Unidos. Como perderão a guerra, seus governantes receberão ajuda para se reerguer e, assim, seus problemas econômicos terminarão. Desta forma 20 homens armados de arco e flecha pegam uma barcaça, atravessam o oceano, chegam à América e tudo corre bem. Mas um problema acontece: eles ganham a guerra”.
A Coréia do Norte protagoniza uma nova versão desta comedia de 1959, que tinha entre seus principais personagens o ator Peter Sellers. Especula-se fartamente na mídia internacional quais seriam as intenções reais do regime de Pyongyang com esta retórica que mais se aproxima de bravatas gratuitas do que de ameaças pra valer.
A valentia ufanista do jovem líder norte-coreano Kim Jong-um e de seus generais corre o mundo na forma de ironias e sarcasmos, une gregos e troianos contra si, e o coloca no topo da lista como o Estado mais esquizofrênico do globo.
Não que a Coréia do Norte não possa promover algum estrago no perímetro de alcance de seus parcos e rudimentares mísseis. A pergunta que não quer calar é o que aconteceria com ela após seu primeiro tiro de pistola.
País de economia frágil, dependente da benevolência e da caridade de outras economias mais robustas, que hoje se mostram incomodadas com sua valentia falastrona e criticam de maneira cada vez mais enfática seu destempero verbal.
Até para os críticos da política externa americana, a Coréia do Norte tem ultrapassado todos os limites que dizem respeito à comunicação socialmente aceitável e ao convívio suportável entre as nações. Mesmo que tenhamos, por caridade que dar um desconto a sua paranóia, há limites para o jogo de palavras, e um preço a se pagar por elas, ainda que não redundem em ações praticas.
Ameaças contra as pessoas é crime, o que se dirá de ameaças contra países. Algumas pessoas dirão que os exercícios militares conjuntos dos EUA e da Coréia do Sul, também configuram ameaças claras ao regime de Pyongyang, merecedoras de repostas a altura, ainda que estas manobras respeitem os limites territoriais estabelecidos por leis internacionais.
Persiste, no entanto a questão: o que a Coréia do Norte pretende afinal, como objetivo pratico de sua retórica agressiva? Acuar os Estados Unidos e seus aliados não é plausível, já que seu arsenal e seus recursos logísticos não a habilitariam para uma campanha de médio e longo prazo.
A resposta poderia estar na visão míope e esquizofrênica do regime de Pyongyang, e numa avaliação equivocada dos benefícios que poderiam advir para sua economia, como possíveis vitimas de uma guerra sem eira nem beira contra os EUA, a Coréia do Sul e Japão. As mesmas razões que levaram nossos vizinhos argentinos para a campanha contra a Inglaterra pela conquista das Malvinas, e que levaram, com no filme, mencionado acima, o rato a rugir, rugir até, quem sabe, ser devorado pelo leão, ou pela águia, (já que diferente da ficção, ganhar esta guerra é impossível).
Existe também a possibilidade que o estudo da psicologia nos trás a respeito da esquizofrenia. Esta pode sem duvidas dotar as pessoas e os países de super poderes, até que sejam para sua própria proteção e de terceiros, contidos em sua loucura pelas leis ou pela força das armas. A que preço a Coréia do Norte poderá ser contida, é uma grande preocupação para a comunidade internacional.


                                                       João Drummond   

domingo, 27 de janeiro de 2013

Desemprego – Uma Epidemia Mundial


Segundo a OIT, existe hoje, no planeta, algo em torno de 200 milhões de desempregados
Se emprego, trabalho, ocupação profissional, podem ser considerados sinais vitais de saúde plena do individuo e da sociedade e o desemprego sintoma de disfunção ou doença, estamos vivendo uma epidemia de proporção global.
O mercado de trabalho sempre foi um campo dinâmico, competitivo e muitas vezes selvagem, quando milhões de novos candidatos saem todos os dias a procura de seu espaço profissional.
Neste estreito corredor, que acena para a independência financeira, o sucesso profissional e a dignidade pessoal, muitos se acotovelam, buscando se mostrar aptos competentes e preparados para ocupar mais um cargo que o mercado demanda.
A preparação nas escolas superiores e profissionalizantes, os estágios, as entrevistas, tudo isto pressiona o jovem candidato, a arreganhar os dentes e exercitar suas garras, para se inserir definitivamente nesta disputa que provavelmente só terminará com a aposentadoria ou a morte.
As tecnologias se renovam, os sistemas se modernizam, muitas profissões se extinguem e outras aparecem para suprir as necessidades no novo e efervescente modelo de mercado.
O trabalhador experiente, antes oficial qualificado, um mestre de oficio, hoje ultrapassado e exaurido em suas competências, dando lugar ao jovem que chega carregado de conhecimentos novos e novas habilidades, para fazer o seu serviço de maneira mais adequada à moderna linha de produção.
Será possível neste modelo, se associar experiência às novas tecnologias de forma a tornar aquele trabalhador curtido e maduro em recurso humano assimilável e útil dentro desta nova ordem?
Ou a tendência natural seria o descarte sumário de uma peça que não consegue mais seguir o seu ritmo alucinante?
Eis o paradoxo. Se existem no mundo milhões de desempregados, por outro lado faltam a este mercado milhões de profissionais qualificados, para exercerem serviços de maior especialização.
Neste modelo, o profissional experiente que se recicla, tem sido buscado cada vez mais como contraponto ao jovem cheio de energias e teorias acadêmicas, mas que se movimenta desajeitado pelas suas engrenagens.
O ponto de equilíbrio que este mercado procura parece estar situado entre estes dois vetores: Experiência e tecnologia, o velho que se renova e o novo que assimila sua experiência.
Assim como os recursos materiais descartáveis podem ser reciclados para suprir novas necessidades da sociedade de consumo, os recursos humanos podem também, somar suas experiências e valores ao conhecimento das modernas tecnologias, e suprir com qualidade suas lacunas e carências profissionais.
Aos jovens profissionais que chegam afoitos ao mercado de trabalho, os exemplos dos pioneiros, vistos, muitas vezes com desdém, como peças ultrapassadas, podem ainda ser de real valia para que seu precioso conhecimento seja incrementado com um maior grau de maturidade e humanidade. Elementos diferenciais indiscutíveis nesta corrida determinada por um lugar ao sol.


                                                                  João Drummond



  







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