segunda-feira, 29 de abril de 2013

A Mídia e os Casos Jurídicos Rumorosos


Logo após a condenação de Marcos Aparecido, vulgo Bola, por morte e ocultação do corpo de Elisa Samúdio, uma frase do advogado Ercio Quaresma chamou-me a atenção: “O resultado do julgamento foi influenciado decisivamente por atuação da imprensa, contrariando as provas dos autos.
Ou seja, o que ele estaria a dizer é que, todo o processo e seu desfecho final poderia ter sido diferente se o caso não estivesse sobre os holofotes da mídia.
Tive que concordar com esta analise do controvertido advogado, e nem é por crer na inocência de Bola.
Reportei-me a alguns anos atrás, na minha cidade, quando tive a infeliz oportunidade de presenciar um crime bárbaro. Vi um sujeito, atirando em um velho mendigo pelas costas, na rua e saindo, ao final impune num julgamento marcado pelo descaso das autoridades e pelo medo de diversas testemunhas que, de prédios vizinhos presenciaram a terrível cena.
O assassino em questão era um homem corpulento, com claros problemas glandulares, afeto ao álcool e de comportamento agressivo quando sob seu efeito.
Metia medo na redondeza e a possibilidade de encontrá-lo, num elevador ou numa esquina próxima, colocando em risco a integridade e a vida das pessoas, desestimulava qualquer atitude mais corajosa por parte delas.
Sabiam que, se aquele sujeito, com seus mais de cento e cinquenta quilos, partisse para cima, não haveria sacristão, policia ou justiça que protegessem a vitima. Ele acabou inocentado num júri popular, porque a versão construída pelas autoridades policiais, do processo em questão, ficou falseada pelo medo e pela omissão.
A vítima era um velho mendigo, que passara pela barraca de frutas do assassino, quando esta estava sob a guarda de seu filho, uma criança de 12 anos, e subtraíra uma laranja. Sua pena foi a morte com vários tiros desferidos pelas costas em plena rua, na presença de moradores de prédios vizinhos, e sob os risos da referida criança.
No julgamento a vitima foi transformada em perigoso criminoso, que ameaçava a criança, filho do assassino, com uma faca, que misteriosamente aparecera nos autos, como prova.
Não havia mídia para denunciar, provocar seu escarcéu e se contrapor às pressões que se abatem sobre as testemunhas, por conta dos interesses particulares envolvidos em casos desta natureza.
A vítima poderia ter sido outro cidadão sem expressão, uma maria chuteira, por exemplo, que segundos seus algozes, se consumida sem dó nem piedade, não implicaria em crime, já que o especialista saberia como matar e desaparecer com o corpo.
A tese de que, sem corpo não há crime, vai sendo vencida na moderna jurisprudência, pelo principio da materialidade indireta. Os matadores profissionais não terão vida fácil diante desta evolução.
No caso do Bola, a atuação de advogados sem escrúpulos merece um artigo a parte. O réu contou com vários deles que trabalhavam, vejam só que ironia, pelos holofotes da mídia. A mesma que tanto criticaram e a atribuíram a responsabilidade pela vexatória derrota no ringue jurídico.  
Negar até mesmo um enterro digno era parte do enredo macabro, como uma forma barata e se resolver um problema que os incomodava. Quem iria duvidar da versão que ilustres cidadãos forjariam, contra a de uma testemunha fantasma, e da qual só restavam agora um filho recém nascido, e uma serie de retratos e filmes circulando pela internet, para deleite do lado sombrio da natureza humana?
Quem sentiria falta de uma oportunista, garota de programas que quis se dar bem, como outros o faziam, em um meio corrompido e desprovido de valores, onde a regra é ganhar e levar vantagens?
Ainda bem que a havia a imprensa no caminho dos canalhas. Se eles se achavam deuses com poderes sobre a vida e a morte, com poderes para ameaçar autoridades, intimidar testemunhas e deturpar a verdade, foi justamente a imprensa o contraponto de pressão legitima que impediu que mais um crime não passasse em branco, como outros, que se tornaram em dados estatísticos, e consolidaram na cabeça de muitas pessoas que vivemos e morreremos na pátria da impunidade.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

O Mundo de Feliciano





O mundo do pastor-deputado Marcos Feliciano é um mundo diferente do nosso, pobres mortais, cidadãos comuns, pagantes, votantes, leitores, eleitores e consumidores.
Situa-se talvez em algum universo paralelo, onde as certezas podem ser absolutas e as verdades inquestionáveis, pois que advêm da direta comunicação com o deus que lhe sustenta a fé.
Neste seu mundo Marcos Feliciano é um homem feliz, já que não precisa conviver com os dilemas, as duvidas e as incertezas que nos acossam no dia a dia, e para todo o sempre.
Marcos Feliciano, do alto do seu púlpito ou da cadeira de presidente da comissão de direitos humanos da câmara, age e fala de uma só maneira. Afinal ele é o homem ungido por Deus, cheio do Espírito Santo que chegou àquela comissão que antes era dominada por satanás. 
O povo que protesta e que pede sua saída da comissão que se dane. A comissão, segundo ele, é de direitos humanos e não pode servir aos agentes do capeta. E o problema é resolvido deixando a turba ignara e enfurecida fora das sessões que ele preside. Simples assim como tudo o é no mundo de Feliciano.
Os africanos são, segundo seu santo pensamento, descendentes da tribo amaldiçoada de Abraão, e, portanto vivem no sofrimento que merecem. Os gays e as lésbicas são agentes de linha de frente nesta guerra declarada que Lúcifer promove contra Deus, pela derrocada da consciência humana.
É dele também algumas frases preciosas de sua pregação religiosa, quando ungido pelo Espírito Santo em seu mundo perfeito, afirma em alto e bom tom que quem matou John Lenon não foi um fã maluco e fanático, mas o próprio Deus em pessoa (ou em espírito?). Ele diz textualmente que Deus deu três tiros em Lenon, (um pelo o Pai, outro pelo o Filho e um terceiro pelo Espírito Santo), porque Lenon teria dito que os Beatles seriam mais famosos que Jesus Cristo.
Mas o pastor Feliciano se supera quando afirma também no púlpito de sua Igreja, que Deus matou também os Mamonas Assassinas, porque eles estavam botando palavras torpes nas bocas das nossas crianças.
Nestes pensamentos deturpados de Feliciano todos os crimes são justos e justificados, quando a vitima é pobre, preta, prostituta, gay ou lésbica, ou simplesmente vitima de acidente, porque a ação de Deus pode descer justiceira e implacável pelas mãos e armas de qualquer assassino e psicopata, ou por obra do acaso, promovendo desta maneira a mais estranha e absurda justiça divina.
Marcos Feliciano se vale desta forma da mais perigosa forma de preconceito que podemos conceber nestes conturbados e difíceis tempos, o preconceito religioso, fundamentalista.
Se apossar das palavras de Deus e dominar desta forma multidões de fieis e arrebatados cordeiros, nos leva às passagens do antigo testamento, quando o Deus de Noé, de Abraão e de Moises, intitulado Deus dos Exércitos, podia promover a matança de povos inteiros que não professavam a mesma fé.
Lembra-nos também das famigeradas cruzadas que levavam hordas de cavaleiros cristãos a uma caça implacável dos mouros, ou cães infiéis, em guerras de extermínios e saques.
Marcos Feliciano vive, no entanto este mundo paralelo perfeito que ficou sepultado nas paginas da história, como alguns de nossos capítulos mais vergonhosos. Alguém precisa ter a coragem de dizer ao nobre deputado e santo pastor que o mundo em que ele vive já acabou.
Neste mundo real o buraco é mais embaixo e ele, como pastor deve abrir mão de sua santidade para levar uma mensagem mais humana e digna aos seus seguidores e fieis.
Já como deputado precisa tomar consciência que é um funcionário a serviço da democracia e como tal deve respeito ao País, a constituição e ao eleitor e cidadão que o elegeu.


                                                               João Drummond

sábado, 6 de abril de 2013

Coréia do Norte – O Rato que Ruge



“Um pequeno país em grave crise financeira declara guerra aos Estados Unidos. Como perderão a guerra, seus governantes receberão ajuda para se reerguer e, assim, seus problemas econômicos terminarão. Desta forma 20 homens armados de arco e flecha pegam uma barcaça, atravessam o oceano, chegam à América e tudo corre bem. Mas um problema acontece: eles ganham a guerra”.
A Coréia do Norte protagoniza uma nova versão desta comedia de 1959, que tinha entre seus principais personagens o ator Peter Sellers. Especula-se fartamente na mídia internacional quais seriam as intenções reais do regime de Pyongyang com esta retórica que mais se aproxima de bravatas gratuitas do que de ameaças pra valer.
A valentia ufanista do jovem líder norte-coreano Kim Jong-um e de seus generais corre o mundo na forma de ironias e sarcasmos, une gregos e troianos contra si, e o coloca no topo da lista como o Estado mais esquizofrênico do globo.
Não que a Coréia do Norte não possa promover algum estrago no perímetro de alcance de seus parcos e rudimentares mísseis. A pergunta que não quer calar é o que aconteceria com ela após seu primeiro tiro de pistola.
País de economia frágil, dependente da benevolência e da caridade de outras economias mais robustas, que hoje se mostram incomodadas com sua valentia falastrona e criticam de maneira cada vez mais enfática seu destempero verbal.
Até para os críticos da política externa americana, a Coréia do Norte tem ultrapassado todos os limites que dizem respeito à comunicação socialmente aceitável e ao convívio suportável entre as nações. Mesmo que tenhamos, por caridade que dar um desconto a sua paranóia, há limites para o jogo de palavras, e um preço a se pagar por elas, ainda que não redundem em ações praticas.
Ameaças contra as pessoas é crime, o que se dirá de ameaças contra países. Algumas pessoas dirão que os exercícios militares conjuntos dos EUA e da Coréia do Sul, também configuram ameaças claras ao regime de Pyongyang, merecedoras de repostas a altura, ainda que estas manobras respeitem os limites territoriais estabelecidos por leis internacionais.
Persiste, no entanto a questão: o que a Coréia do Norte pretende afinal, como objetivo pratico de sua retórica agressiva? Acuar os Estados Unidos e seus aliados não é plausível, já que seu arsenal e seus recursos logísticos não a habilitariam para uma campanha de médio e longo prazo.
A resposta poderia estar na visão míope e esquizofrênica do regime de Pyongyang, e numa avaliação equivocada dos benefícios que poderiam advir para sua economia, como possíveis vitimas de uma guerra sem eira nem beira contra os EUA, a Coréia do Sul e Japão. As mesmas razões que levaram nossos vizinhos argentinos para a campanha contra a Inglaterra pela conquista das Malvinas, e que levaram, com no filme, mencionado acima, o rato a rugir, rugir até, quem sabe, ser devorado pelo leão, ou pela águia, (já que diferente da ficção, ganhar esta guerra é impossível).
Existe também a possibilidade que o estudo da psicologia nos trás a respeito da esquizofrenia. Esta pode sem duvidas dotar as pessoas e os países de super poderes, até que sejam para sua própria proteção e de terceiros, contidos em sua loucura pelas leis ou pela força das armas. A que preço a Coréia do Norte poderá ser contida, é uma grande preocupação para a comunidade internacional.


                                                       João Drummond   

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