quarta-feira, 1 de maio de 2013

Repensando a Família (Entre o Encontro e o Abandono)


Fala-se muito, nestes conturbados tempos, na falência e dissolução da estrutura familiar, como o principio e a causa de muitos problemas que a sociedade enfrenta hoje, (violência, drogas, filhos abandonados, gravidez indesejada etc.)
Este é um tema recorrente de interesse geral e de natureza genérica, mas como vivemos todos enfronhados em uma teia social, e as questões particulares são peças do quebra-cabeça coletivo, tomo a liberdade de me reportar às experiências particulares como matéria prima deste artigo, que pode ser considerado, ao mesmo tempo uma reflexão e um alerta.
Sou um dos catorze irmãos de uma destas unidades familiares a que me referi, e me considero um sujeito privilegiado.
Convivendo com todos os problemas que toda família enfrenta, vi a minha própria enfrentando suas cotas de crises e turbulências, mas como algumas outras, e diferente de muitas, saindo fortalecida delas.
Assisti desde a minha infância, o nosso barco familiar, passar por tempos de bonança e de tormentas, navegando hora em mar de brigadeiro, hora se mantendo acima da linha d’ água como por milagre.
Recentemente comemoramos o 85º aniversario da minha mãe e pude perceber claramente a dimensão de nossas conquistas na construção de um modelo familiar ao mesmo tempo flexível e sólido, capaz de crescer e prosperar em tempos de vacas gordas e de resistir e se adaptar em valores e referencias nos tempos de crise.
Todos os irmãos, muitos netos e alguns bisnetos, alem, é claro, de outros parentes e amigos numa comemoração, que ultrapassou a sua intenção. Podemos afirmar que este evento representou de forma ampla a celebração da própria vida, com toda sua diversidade e complexidade.
Neste ponto de nossa jornada cabe uma indagação: Quais são os pilares que permitem a forja e a sustentação de uma família bem estruturada?
Eu diria que são, dentre outros, valores com integridade, honestidade, honradez, humanidade etc., considerados por muitos, como antiquados e descartáveis, dentro da celeridade e do praticismo que a vida moderna se nos impõe.
Enquanto eu digeria os alimentos orgânicos e psicológicos daquele encontro familiar, e para contraponto das minhas teses, (como a vida é sabia!!!), continuando na linha de raciocínio do particular para o geral, o Ivan, meu filho, que hoje mora e trabalha em São Paulo, me ligou naquela madrugada, assustado dizendo que um grupo de adolescentes de 13, 14, 15 anos havia invadido o prédio em que morava e agredido violentamente um companheiro seu.
A seguir deu detalhes. Aquele grupo de jovens eram moradores de blocos de apartamentos vizinhos, que ficavam a noite nas redondezas, usando drogas e cometendo pequenos assaltos.
A tentar assaltar o tal companheiro que voltava do trabalho, agrediram-no e atiçaram a ira de outro amigo, que com uma faca passou a desafiar o grupo.
Este grupo foi ao seu encalço e invadiu a garagem do prédio para agredi-lo. Todo mundo terminou aquela noite na delegacia.
As perguntas: Como um grupo de jovens (meninos e meninas) poderiam permanecer na rua até tarde, usando drogas e onde estariam suas famílias para educá-los e conte-los?
As respostas a estas questões podem ser as mesmas, ou estar próximas das questões sobre a violência e perversidade crescentes que observamos, como sintomas de uma grave doença social, em que somos a um só tempo, vítimas e algozes.
A falta de valores e referencias está nos levando a clara falência do nosso modelo social a partir da falência da estrutura familiar. Onde é que nós como seres humanos e sociedade estamos falhando?  Quais os valores que deixamos para trás, como ultrapassados que temos agora que resgatar?
Talvez, só talvez, quem sabe? (já que sonhar não custa nada) as respostas estejam nos encontros familiares singelos, onde as diferenças, os ranços e as magoas cedam lugar à maturidade e ao compartilhamento.
A alternativa é sombria. Grupos ou tribos que se unem nas ruas e praças para comemorar a degradação e selvageria, quando seus lares fracassaram na tarefa de acolhê-los, protegê-los e lhes impor limites.

                                                                            João Drummond

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