Porque
o debate político vem se acirrando e se radicalizando nos últimos meses? Creio
que uma das razões seria a insatisfação da sociedade brasileira com a condução
de nossa política econômica.
Há
quem defenda que a parte mais sensível do ser humano é o bolso. Se o cidadão
não sentisse na pele os efeitos da crise, (que na verdade é em boa parcela
mundial), não haveria campo de cultura para a radicalização deste debate.
Acontece
que este debate só se torna produtivo no centro do espectro ideológico, onde as
alternativas mais viáveis podem ser apresentadas de forma a responder as pautas
democráticas.
O
que interessa hoje ao cidadão comum? Continuar a trabalhar e usufruir da
conquistas sociais e econômicas que o lançaram no maravilhoso mundo do mercado
de consumo. Isto significa pagar suas
contas e continuar a ter acesso à segurança, saúde, educação, moradia, e tudo o
mais que ele puder conseguir pelo trabalho direto e pelo retorno dos seus
impostos.
O
PT, que tem sido a grande novidade na política brasileira nas ultimas décadas,
com suas políticas sociais, seu discurso ético, suas opções pelos menos
favorecidos, mostra sinais de não consegue mais atender as expectativas da
sociedade brasileira, principalmente no que se refere às políticas econômicas,
(com reflexos diretos nas outras políticas).
O
partido inchou e assimilou outras correntes partidárias, em nome da
governabilidade. Muitas destas correntes se associaram ao PT por adesismo e
conveniência e estão prontas a deixar o barco se ele começar (como já acontece)
a fazer água.
A
crise é passageira? Sim, como tudo o mais na vida. O grande problema é que não
temos uma alternativa clara ao PT na política brasileira. O PSDB, o PMDB e
outros partidos já estiveram como se diz popularmente “por cima” e não teriam
hoje ferramentas adequadas para lidar com a crise.
A
principal ferramenta seria a confiança do cidadão e eleitor na sua capacidade
de gerenciamento da nossa economia.
Muito
maior do que a crise econômica é a crise de confiança contra as classes
dirigentes e as instituições públicas.
Observa-se
neste quadro, de forma polarizada, o acirramento e radicalização do debate
político refletidos em palavras de ordens e clichê que nada dizem e nada
resolvem. Direita raivosa, esquerda burra, mídia conservadora, mídia
reacionária, coxinhas, etc. são adjetivos que por si só trazem todo um
arcabouço de idéias pré-concebidas que liquidam a inteligência de um debate.
O
debate possível e produtivo só pode acontecer no centro da mesa do espectro
ideológico. Podemos não concordar com as pessoas e suas idéias, mas temos que
entender que elas também têm, assim como nós, o direito ao espaço numa
democracia em construção como a nossa. Não dá para transformar o Brasil numa
faixa de Gaza e querer que a coisa funcione a contento.
Nunca
funcionou lá e nunca vai funcionar em lugar nenhum do mundo. O que seria de uma
democracia se a “direita raivosa” ou a “esquerda burra” fizesse prevalecer suas
convicções.
O
que o Brasil mais precisa neste momento são de homens e mulheres de bom senso,
que possam debater com maturidade nossos problemas e ajudar na construção de um
grande pacto nacional, (político e social), que amenize a crise presente e que
crie melhores perspectivas para o futuro.
João Drummond
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