segunda-feira, 8 de abril de 2013

O Mundo de Feliciano





O mundo do pastor-deputado Marcos Feliciano é um mundo diferente do nosso, pobres mortais, cidadãos comuns, pagantes, votantes, leitores, eleitores e consumidores.
Situa-se talvez em algum universo paralelo, onde as certezas podem ser absolutas e as verdades inquestionáveis, pois que advêm da direta comunicação com o deus que lhe sustenta a fé.
Neste seu mundo Marcos Feliciano é um homem feliz, já que não precisa conviver com os dilemas, as duvidas e as incertezas que nos acossam no dia a dia, e para todo o sempre.
Marcos Feliciano, do alto do seu púlpito ou da cadeira de presidente da comissão de direitos humanos da câmara, age e fala de uma só maneira. Afinal ele é o homem ungido por Deus, cheio do Espírito Santo que chegou àquela comissão que antes era dominada por satanás. 
O povo que protesta e que pede sua saída da comissão que se dane. A comissão, segundo ele, é de direitos humanos e não pode servir aos agentes do capeta. E o problema é resolvido deixando a turba ignara e enfurecida fora das sessões que ele preside. Simples assim como tudo o é no mundo de Feliciano.
Os africanos são, segundo seu santo pensamento, descendentes da tribo amaldiçoada de Abraão, e, portanto vivem no sofrimento que merecem. Os gays e as lésbicas são agentes de linha de frente nesta guerra declarada que Lúcifer promove contra Deus, pela derrocada da consciência humana.
É dele também algumas frases preciosas de sua pregação religiosa, quando ungido pelo Espírito Santo em seu mundo perfeito, afirma em alto e bom tom que quem matou John Lenon não foi um fã maluco e fanático, mas o próprio Deus em pessoa (ou em espírito?). Ele diz textualmente que Deus deu três tiros em Lenon, (um pelo o Pai, outro pelo o Filho e um terceiro pelo Espírito Santo), porque Lenon teria dito que os Beatles seriam mais famosos que Jesus Cristo.
Mas o pastor Feliciano se supera quando afirma também no púlpito de sua Igreja, que Deus matou também os Mamonas Assassinas, porque eles estavam botando palavras torpes nas bocas das nossas crianças.
Nestes pensamentos deturpados de Feliciano todos os crimes são justos e justificados, quando a vitima é pobre, preta, prostituta, gay ou lésbica, ou simplesmente vitima de acidente, porque a ação de Deus pode descer justiceira e implacável pelas mãos e armas de qualquer assassino e psicopata, ou por obra do acaso, promovendo desta maneira a mais estranha e absurda justiça divina.
Marcos Feliciano se vale desta forma da mais perigosa forma de preconceito que podemos conceber nestes conturbados e difíceis tempos, o preconceito religioso, fundamentalista.
Se apossar das palavras de Deus e dominar desta forma multidões de fieis e arrebatados cordeiros, nos leva às passagens do antigo testamento, quando o Deus de Noé, de Abraão e de Moises, intitulado Deus dos Exércitos, podia promover a matança de povos inteiros que não professavam a mesma fé.
Lembra-nos também das famigeradas cruzadas que levavam hordas de cavaleiros cristãos a uma caça implacável dos mouros, ou cães infiéis, em guerras de extermínios e saques.
Marcos Feliciano vive, no entanto este mundo paralelo perfeito que ficou sepultado nas paginas da história, como alguns de nossos capítulos mais vergonhosos. Alguém precisa ter a coragem de dizer ao nobre deputado e santo pastor que o mundo em que ele vive já acabou.
Neste mundo real o buraco é mais embaixo e ele, como pastor deve abrir mão de sua santidade para levar uma mensagem mais humana e digna aos seus seguidores e fieis.
Já como deputado precisa tomar consciência que é um funcionário a serviço da democracia e como tal deve respeito ao País, a constituição e ao eleitor e cidadão que o elegeu.


                                                               João Drummond

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