quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Battisti - Do Banditismo ao Terrorismo

Sobre Cesare Battisti, um excelente texto de Anthony Daniels


Bolívar Lamounier

Em seu número 7, de junho deste ano, a revista Dicta e Contradicta [WWW.dicta.com.br] traz um magnífico artigo sobre o affair Cesare Battisti. O autor é Anthony Daniels, um escritor e psiquiatra inglês que trabalhou durante muito tempo na África e atualmente clinica em Londres e na penitenciária de Birmingham.

Cesare Battisti, para quem não se lembra, foi militante de um grupo terrorista italiano, os Proletari Armati per il Comunismo; é acusado de dois assassinatos e cumplicidade em mais dois. Procurado na Itália, ele fugiu para a França, de lá para o México, outra vez para a França e da França para o Brasil, tendo aqui passado alguns anos na prisão.

Em dezembro de 2010, num de seus últimos atos oficiais, o então presidente Lula negou-se a extraditá-lo para a Itália. A justificativa oficial, como se recorda, foi a de que a Itália não teria como garantir a integridade de Battisti quando o recolhesse a uma de suas prisões.

O grotesco de tal justificativa salta aos olhos, mas Anthony Daniels teve paciência para refutá-la ponto por ponto. “Apesar de suas múltiplas carências políticas – ele escreveu –, a Itália permanece uma democracia liberal onde as pessoas não temem batidas à sua porta durante a madrugada nem serem presas arbitrariamente”.

Prosseguindo, Daniels relata a vida de Battisti, remontando às duas primeiras passagens dele pela prisão: uma por furto, aos 17 anos, e outra por assalto à mão armada, aos 20. E foi na prisão que ele se converteu ao marxismo revolucionário, sob a influência de Arrigo Cavallina, filho de uma família abastada. Foi assim que “ele passou, sem solavancos, do banditismo ao terrorismo”.

Não vou resumir todo o artigo para não estragar o apetite de seus eventuais leitores, mas não posso deixar de citar algumas passagens. Referindo-se à mobilização de certo sentimentalismo pelos defensores de Battisti, tanto na França como aqui, Daniels toca num ponto sumamente importante:

“[O sentimentalismo associado à violência política de esquerda é, evidentemente, uma enfermidade ocidental, cuja manifestação mais óbvia é o culto a Ernesto Guevara, tomado com demasiada leviandade como símbolo da aspiração da juventude à liberdade”...]. A única liberdade pessoal que ele valorizou em toda a sua vida foi a sua própria”.

Mais adiante, após relembrar o relativo sucesso de Battisti como escritor, Daniels põe o dedo no nariz de certa camada ilustrada francesa: um fator de reforço à corrente de opinião contrária à extradição é que Battisti se tornara um letrado; na França essa condição se beneficia de uma espécie de extraterritorialidade “quanto ao reino mundano das obrigações legais. Fosse ele sapateiro ou vendedor de vinhos, seria muito improvável que tivesse uma defesa tão veemente”.

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