terça-feira, 6 de setembro de 2011

A Loucura Humana e as Câmaras de Vigilância


Diante de cenas de barbárie e violência gravadas por câmaras de vigilância, e repetida à exaustão nos programas policiais e noticiários da TV as pessoas repetem:
— Parece que a humanidade está enlouquecendo.
Há sempre opiniões dissonantes:
— Que nada, o ser humano sempre foi este animal, apenas existe hoje, mais câmaras de vigilância.
A verdade é que vamos ficando cada vez mais acostumados com estas cenas chocantes, e amortecendo nossa capacidade de indignação. Afinal a vida continua e as contas não nos dão trégua. Temos que ir tocando em frente e correndo atrás, não é mesmo?
Enquanto corremos atrás das soluções do dia a dia parece que vamos deixando para trás, com cada vez mais desenvoltura e omissão alguns valores que se tornaram pesos nas nossas mochilas e algibeiras psíquicas: a compaixão e a humanidade por exemplo.
As próprias pessoas que foram protagonistas destas cenas, quando confrontadas com as imagens das câmaras, se surpreendem e não se reconhecem naquela explosão de maldade e barbárie.
É como se uma segunda natureza do homem, escondida por uma leve capa de traquejo social, finalmente desse o ar da graça e cometesse as maiores atrocidades com se fosse algo comum e banal.
É como também se estas ações despertassem em quem está do outro lado, a exemplo daqueles jogos do coliseu romano, espectadores capazes de ver a morte e a violência gratuita como um simples e banal espetáculo.
Será que estamos enlouquecendo ou apenas tendo mais fartura de cenas desumanas, que nos tornam cada vez menos humanos? Ou as duas coisas?
Uma coisa é ouvir falar de violência, afinal a pessoa que descreve a cena sempre pode estar exagerando. Outra diferente é ver estas cenas gravadas em detalhes, para serem repetidas tantas vezes quanto sejam necessárias para ficarem monótonas e banais.
Podemos imaginar em um cenário de guerra, as pessoas paulatinamente se acostumando com toda sua degradação, como se aquilo não passasse de uma simples de cansativa rotina.
Parece que a humanidade se rende diante do que é inevitável e cada vez mais comum, como se aquelas cenas, pingando nas nossas consciências em doses cada vez mais cavalares, fossem nos imunizando e subtraindo nossa mais humana e saudável empatia e compaixão.
Afinal é apenas mais uma cena, das muitas que já vimos ontem e veremos amanhã, não é mesmo? O que se pode fazer afinal?
Temos que tocar a vida em frente, continuar a correr atrás das soluções do dia a dia, pagar as contas, garantir o supermercado, suprir nossas mais urgentes e fúteis necessidades e nossos sonhos de consumo.
As vitimas que se cuidem e enfrentem seus carrascos. Afinal eles devem ter feito por merecer. As possibilidades que sejamos nós as próximas vitimas ou os próximos algozes está tão distante, afastadas de forma segura pelas câmaras de segurança, como imagens especulares de mais um filme de Hollywood.
 E dentro deste maquiavélico processo de psico-adaptação, podemos nos vangloriar por esta capacidade cada vez menor de sentir e compartilhar, que nos tornam passo a passo em seres mais modernos, individualistas, mutantes e desumanos. Simples e bocejantes espectadores de filmes de terror. Quem sabe..., as próximas vítimas ou os próximos carrascos?
 


João Drummond




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